Cordões de São Francisco do Mestre Tucas
(Homenagem na sequência da foto: Yemanjá, Xangô, Oxóssi,
Oxóssi e Oxalá, Yansan e Ogun)
Gostaríamos de agradecer ao Mestre Tucas, do Grupo União do Mestre Umoi, que nos cedeu algumas fotos dos cordões de São Francisco, baseados na graduação criada pelo Mestre Tabosa e que Mestre Tuca foi conquistando com sua dedicação à capoeira. Todas os cordões de São Francisco fazem parte do Baú de Recordações do Mestre Tucas que foram exibidos na Live "Ao Pé do Berimbau" do Mestre Skisyto.
Assistam no intervalo 1:33:01 no Youtube ou pelo Facebook no intervalo 0:26:32
A seguir Mestre Tabosa contará a História dos Cordões de São Francisco e a transição para as Cordas que utilizamos até hoje.
Gostaríamos antes de tudo agradecer também ao Mestre Gil e ao Mestre Monera pela ajuda ao relembrar detalhes desta história.
A história nasce da necessidade de criar uma Graduação fundamentada para apresentar aos alunos da Academia Tabosa desde sua inauguração em 1974.
Para tornar mais fácil o entendimento desta história será necessário contextualizar na linha do tempo e dos acontecimentos.
Meu contato com a Senzala vem desde 1967, como já foi narrado. Todo final de ano, passava minhas férias no Rio de Janeiro, onde aparecia nos treinos da Senzala e também frequentava várias academias de ginástica, sendo uma das grandes experiências profissionais que tive como professor de ginástica, criando aulas com características diferentes das outras, onde usei movimentos da capoeira, chamando-a de Ginastica Localizada Brasileira.
Mestre Tabosa e Mestre Gato, Mestre Peixinho e Mestre Rafael
(acervo do Mestre Itamar)
1968 Vivência com o Grupo Senzala
Mestre Leopoldina no berimbau e chapéu, Mestre Luís Paulo - ES
(no berimbau da direita), Mestre Tabosa e Mestre Toni Vargas jogando
Mestre Leopoldina no berimbau e chapéu, Mestre Peixinho (no atabaque),
Mestre Luís Paulo - ES (no berimbau da direita), Mestre Toni Vargas (à direita) e
Mestre Tabosa (na queda de rins - à esquerda)
Mestre Peixinho (atabaque), Mestre Toni Vargas e Mestre Tabosa (no balão) e
Mestre Leopoldina (com chapéu, no berimbau)
Tentei trazer para Brasília a graduação que a Senzala acabava de oficializar na sua academia, mas ao conversar com o Peixinho, meu camarada, não recebi uma explicação que pudesse satisfazer o interesse dos alunos de Brasília.
Como já tinha me comprometido com os alunos que teríamos uma graduação, fiquei sem chão. Já na véspera de voltar, pensei, como vou fazer para honrar minha palavra com os alunos. Percebi neste momento que estava em frente de uma casa que vendia artigos de Umbanda e vi que tinha um brilho interessante num colar pendurado de cor marrom, outro de cor verde e assim vários, que me chamou a entrar na loja.
Perguntei o que representava aqueles colares e a senhora da loja me respondeu que eram as guias dos Orixás. Perguntei o que representava aquelas cores e ela me respondeu que eram as cores na Umbanda, que sintetiza a religião africana no Brasil, de cada Orixá.
A graduação que fiz baseado nos Sete Orixás da Umbanda, como disse, era uma homenagem a força daqueles que escravizados tiveram para poder ainda lutar pela sua liberdade, que era sua Fé, tão somente.
Em 1967 a 1969, quando ganhamos o Berimbau de Ouro, nos apresentamos sem camisa e usávamos uma calça que ia na altura da canela, listrada com cores fortes e uma corda vermelha chamada "rabo de rato" amarrada na cintura, para reforçar o loock. Enquanto os outros grupos se mantinham numa tradição de indumentária, que até mesmo não tínhamos consciência de que se tratava de alguma tradição, fizemos uma apresentação que causou um certo impacto.
A partir do evento “Berimbau de Ouro” todos os participantes passaram a usar a corda vermelha de Professor, pois já dávamos aulas de capoeira. Posteriormente a Comunidade da Capoeira passou a nos chamar de Mestres.
Lembro que o Cláudio, querendo que um aluno dele participasse do Berimbau de Ouro, pediu que eu criasse um jogo diferente para fazermos na exibição. Foi quando eu fiz uma coreografia, onde eu era atacado por ele, que usava um pau de berimbau. Esse outro era o nosso querido mestre Peixinho, Marcelo naquela época. Apresentamos essa coreografia nos três Berimbau de Ouro.
Detalhes sobre o cordão de São Francisco e a corda de algodão
Mestre Tabosa e alunos fizeram Apresentações de Capoeira no Ginásio Nilson Nelson em 1976 e contaram com a participação de Ogans (tocadores de atabaque do candomblé):
Lima da Nação Kêto e Ari da Nação Omolokô além de outras atrações culturais.
Detalhe: Mestre Tabosa com a corda vermelha "rabo de rato" usada em
1976, 1968, 1969 quando ganhou junto com o Grupo Senzala o Berimbau de Ouro
Corda "rabo de rato"
(calibre 3mm)
Detalhe: Alunos da Academia Tabosa usando o cordão de São Francisco (calibre 6mm)
Tibério (cordão marrom) e outro aluno (cordão entrelaçado com branco)
Cordão de São Francisco entrelaçado em destaque
Mestre Tabosa e seus alunos no Ginásio Nilson Nelson e
atrás a mãe da Edna vestida de baiana
Mestre Tabosa dando um Xangô com seu aluno.
Atrás Da. Lourdes Basílio (mãe da Edna)
vestida de baiana dançando junto com as mães de Santo.
A seguir um bate papo do Mestre Tabosa com o Mestre Itamar sobre a corda usada no Berimbau de Ouro, resgatando mais um detalhe da História. (bate papo realizado no dia 16/06/2022)
Mestre Tabosa: Fala meu irmão Itamar, bom dia!
Deixa eu puxar da sua memória já que ela é boa! rs rs. No Berimbau de Ouro, quem pensou em a gente usar a corda Vermelha e de que material era feito?
Não era do mesmo que depois foi usado como a graduação, né!?
Vocês, no caso, você e Peixinho devem ter descoberto onde comprar o rolo de corda no subúrbio, né!? Abraços meu camarada!
Mestre Itamar: Oi Hélio, tudo bem? O primeiro berimbau de ouro foi em setembro de 1967 e já usávamos cordas vermelhas desde 65, não como graduação. Rafael se inspirou no grupo de baianos que veio ao Rio para uma exibição, acho que VEM CAMARÁ e eles usavam calças listradas com uma faixa vermelha, aí Rafael que já pensava em criar um sistema de graduação para o Grupo Senzala, achou por bem usar em vez de faixa, cordas, para ficar diferente das artes marciais orientais. Por esse motivo que a graduação veio de cima pra baixo porque, quando decidimos realmente criar as graduações, a vermelha era de quem dava aulas. Decidimos também não usar o título Mestre já que Rafael achava que se fossemos mestres, Bimba seria super mestre rsssss. Até hoje não formamos Mestres, achamos que a comunidade é que reconhecerá ou não o formado como Mestre. Na época usávamos uma corda chamada " rabo de rato", um tipo de corda dura até que descobrimos em uma loja aqui em Copacabana, um tipo de corda trançada, bem mais macia e é a que usamos até hoje. Resumindo: Em 1967, ano do primeiro berimbau de ouro, já usávamos cordas vermelhas. O material era o rabo de rato, um tipo de cordão grosso usado em artesanatos, cortinas e etc. O que aconteceu é que quando descobrimos um material melhor, passamos a usar. Espero ter ajudado. Abraço
Obs: De acordo com a pesquisa o Show Folclórico "Vem Camará" era do Mestre Acordeon e foi realizado em 1966.
Temos que nos transportar no tempo, pois naquela época não tínhamos locomoção com facilidade, avião sem chance de tão caro e o ônibus levava quase 24 horas para chegar no Rio, então comprei em 1974 apenas uma corda vermelha com o Peixinho para dar para o meu Primeiro Corda Vermelha na Primeira Academia Oficial de Brasília e Implantar a minha Graduação baseada nos 7 Orixás da Umbanda. Contudo, não dava para ficar indo ao Rio de Janeiro comprar as cordas para os demais alunos que estavam evoluindo nas aulas, então recorri mais uma vez a casa de umbanda e descobri os cordões de São Francisco que eram encapados com seda e entrelaçados. Como tinham diversas cores e variações atenderam perfeitamente para o que eu precisava na época.
Preciso abrir um parêntese na história, porque vale contar que uma das guias que eu comprei na casa de umbanda no Rio de Janeiro, na Barata Ribeiro, tinha a cor rosa.
Os cordões de São Francisco eram comprados na loja de Umbanda da 207 Sul e era difícil encontrar a cor ROSA, que estava na guia que eu comprei na Barata Ribeiro no Rio de Janeiro. Na Umbanda a cor ROSA é dos Ibejis, a representação do Orixá das crianças. Pesquisando no Livro "O Exército Branco de Oxalá" de Mário Barcelos - Editora Eco - Rio de Janeiro - 1970, adquirido junto com a guia, então verifiquei que a cor ROXA representa Oxum, Orixá que tem a força semelhante aos demais, então fiz a troca em muito pouco tempo depois de criada a minha Graduação baseada nos 7 Orixás da Umbanda.
Capa do Livro: "O Exército Branco de Oxalá" de Mário Barcelos
Editora Eco - Rio de Janeiro - 1970
Voltando à história, continuei por 12 anos (1974 a 1986) comprando os cordões de São Francisco e posteriormente (desde a 3a academia da 506 Sul) fiz uma transição para a corda de algodão.
A partir do II Curso de Capoeira na Academia Tabosa dado pelo Peixinho em 1980, passei a comprar diretamente com ele um rolo da corda que trazia do Rio e em Brasília cortávamos, fazíamos as franjas e pintávamos, mergulhando em baldes de metal e por fim o nó de rosa. Conforme a necessidade repetíamos este processo manual por horas até contemplar todos os alunos que seriam graduados, seguindo a cor da graduação de acordo com os estágios.
(calibre de 10mm) Detalhe: cordas de algodão cortadas, pintadas, com as franjas e o nó de rosa
prontas para a graduação sobre a mesa na Academia Tabosa da CLN 109
Live do Mestre Skisyto entrevistando o Mestre Tucas
Na foto Mestre Tucas está mostrando o seu cordão de São Francisco (entrelaçado)
Azul e Branco homenageando a Orixá Yemanjá e Oxalá
(Segunda corda da graduação do Mestre Tabosa - 1976)
Obs: Segundo o Mestre Tucas, em 1986 o Grupo União passou a usar a corda de algodão e atualmente usam a corda de lã, porque é mais macia.
Abaixo a Coleção do Baú de Recordações que o Mestre Tucas gentilmente
fotografou para o Blog do Mestre Tabosa
Nas fotos abaixo podemos ver a transição do cordão de São Francisco
para a corda de algodão
Detalhe: Mestre Abadá com a corda vermelha de algodão (calibre 10mm) e o aluno da Academia Tabosa do lado direito está com o cordão de São Francisco (calibre 6mm),
assim como a transição do uniformes da Academia Tabosa:
bata de brim e camisetas e calças de malha
(Evento de entrega de corda - 1978)
II Curso foi do Mestre Peixinho em 1980 na Academia da 506 Sul
(Ambos usando a corda vermelha de algodão)
(Na época as cordas eram mais curtas e mais finas - calibre 3mm)
Fred Arquiteto, Rogelio, Japão, Paulinho Tibana,
Boca, Cláudio Danadinho, J. Bamberg, Monera, Tabosa,
Ralil, Huguinho, Abadá, Gil, Skisyto,
A corda do Mestre Gil
Primeiro corda vermelha da Academia Tabosa e de Brasília em 1974
foi comprada no Rio de Janeiro através do Mestre Peixinho e
guardada até hoje com muito orgulho pelo Mestre Gil
Detalhe: A diferença na espessura da corda do Mestre Gil (calibre 3mm - 1974) e
a do Mestre Jomar (calibre 10mm - 2009 - Grupo do Mestre Adilson)
do mesmo material, porém de épocas distintas,
exemplificando a transição do material)
Corda do Mestre Gil
Clique na imagem abaixo conhecer a História das Criação de Uniformes
para a Academia Tabosa e muito mais...
Detalhes dos cordões de São Francisco
Clique na imagem abaixo para saber mais detalhes sobre a
criação da Graduação da Academia Tabosa