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Mestre Tabosa, discípulo do Mestre Arraia, deu continuidade à Capoeira de Brasília desde 1964. Ganhador do "Berimbau de Ouro" junto com o Grupo Senzala em 67, 68 e 69. Em 1974 inaugurou a Primeira Academia de Capoeira e Ginástica oficial de Brasília, a Academia Tabosa. Interessou-se também por outros esportes como Judô (Faixa Preta), Sumô, Esgrima, Professor Renomado de Ginástica Localizada Brasileira e Competições de Maratonas, Triatlons e Canoagens. Na área das Artes participou de Teatro, Cinema e Pioneiro nos Palcos de Músicas de Brasília participando de vários Shows e Concursos de Música Popular Brasileira como Intérprete e Compositor, um polímata. Seu Blog vai disponibilizar todas as facetas deste Grande Homem Sempre à Frente do seu Tempo. Dedicado principalmente à Capoeira, nossa Arte Luta, genuinamente Brasileira. Uma Lenda Viva!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Entrevista escrita para o G1

 21/04/2016 17h43 - Atualizado em 21/04/2016 17h43

Pioneiro da capoeira em Brasília fala do amor à cidade e ao esporte

Mestre Tabosa recebeu o título de Cidadão Honorário do Distrito Federal.
Sua trajetória na capoeira em Brasília virou livro e documentário.

Mestre Tabosa, pioneiro da capoeira em Brasília (Foto: Bárbara Nascimento/G1)Mestre Tabosa, pioneiro da capoeira em Brasília (Foto: Bárbara Nascimento/G1)











Hélio Tabosa de Moraes veio para Brasília com 12 anos, em 1960. O pai, que era militar, foi transferido para a capital e Tabosa achava a cidade um pouco entediante. "Não tinha nada no começo, as coisas ainda estavam acontecendo por aqui". Hoje, mais conhecido como Mestre Tabosa, o senhor de 69 anos acha a cidade um dos lugares mais bonitos do mundo. Nascido no Rio de Janeiro, se considera "muito mais brasiliense do que qualquer outra coisa". Foi aqui que conheceu seus dois amores: a mulher, Tereza, e a capoeira.

Eu não conhecia de perto a capoeira, mas a vibração dentro de mim me fazia querer aprender. "
Mestre Tabosa

Mestre Tabosa foi o fundador da primeira academia de capoeira e um dos primeiros professores da luta no Distrito Federal. Formou mais de 20 pessoas, entre elas a primeira mulher do Brasil a receber a corda vermelha, que na capoeira de Tabosa significa se tornar mestre, abaixo somente da corda branca. "Ela foi para os Estados Unidos e até hoje ensina capoeira lá. Fiquei muito orgulhoso, mas o mérito é todo dela."

Tabosa começou na capoeira em 1964, após assistir uma exibição no Elefante Branco. "Eu não conhecia de perto a capoeira, mas a vibração dentro de mim me fazia querer aprender. Quando vi a exibição do Mestre Arraia, só pela destreza dessa pessoa, eu decidi fazer", conta. Mestre Arraia, que veio da Bahia para Brasília, virou seu mentor e professor. "Foi por pouco tempo. Arraia era metido em movimentos políticos, teve que sair fugido daqui depois do golpe militar."

Anos depois, em 1968, Tabosa foi convidado pela Universidade de Brasília para dar aulas de capoeira por meio da federação de educação física da instituição. Durante esse período, Tabosa foi campeão da competição nacional "Berimbau de Ouro", que acontecia no Rio de Janeiro. Ele e dois amigos receberam o troféu em formato de berimbau, que era feito de ouro mesmo, mas foram furtados dias depois. "Nem deu pra ficar rico", comenta.

Mestre Tabosa (Foto: Lucas Ribeiro/Arquivo Pessoal)Mestre Tabosa (Foto: Lucas Ribeiro/Arquivo Pessoal)

Entre 1964 e 1970, a capoeira foi crescendo na capital e grupos foram formados, que Tabosa descreve como sendo "gangues". "A capoeira antigamente era mais violenta, as pessoas formavam gangues mesmo. Na rua, tinha briga, tinha luta. Eu sempre fui da paz."

Tabosa também foi convidado a se apresentar no Palácio do Buriti para a filha do ex-presidente Ernesto Geisel. "Foi algo um pouco confuso, fui pego de surpresa. Meu pai sendo militar, não podia me envolver muito com essas questões políticas, não poderia recusar. Acabou que me senti lisonjeado", diz.

A ideia de inaugurar a academia de capoeira surgiu depois que um amigo voltou de um intercâmbio nos Estados Unidos. "Ele veio cheio de ideias no campo comercial. Ele propôs pra mim, já que eu tinha um certo nome na comunidade aqui. No início eu fui contra e não queria me meter muito nisso", diz. Na época, Tabosa ainda cursava direito no Ceub. "Acabou que a capoeira virou a coisa mais importante da minha vida. Nunca virei advogado."

Em 1974, Tabosa, que já era mestre, fundou a Academia Tabosa de Capoeira e Ginástica com seu amigo Robson Machado, na 505 Sul. "Tinha pouca gente, inicialmente. Eu tinha toda a preocupação de pagar os custos fixos da academia e tudo, mas nos primeiros dois meses já tinha orçamento suficiente pra honrar os custos", diz. A academia já chegou a receber mais de 200 alunos de capoeira. "Já tive que dar aula em um ginásio uma vez porque não tinha espaço."

A academia funcionou por 26 anos e mudou de lugar duas vezes: foi para a 506 Sul e para a Asa Norte. Em 2002, Tabosa resolveu ir para o Rio de Janeiro com a esposa, depois de ter passado o negócio para alunos. "Já estava cansado e fui para Búzios, mas continuava vindo para Brasília sempre que podia, para dar palestras e oficinas".

Tabosa diz que tentou morar em Búzios por ter se decepcionado com Brasília. "No início de 90, o filho da jornalista [Valéria] Velasco foi assassinado por uma gangue que praticava artes marciais e as pessoas começaram a demonizar qualquer tipo de luta", diz. "Depois disso fiquei desanimado com a cidade."

Mestre Tabosa (Foto: Bárbara Nascimento/G1)Mestre Tabosa (Foto: Bárbara Nascimento/G1)

Apesar de ter se mudado para o Rio de Janeiro, Tabosa sentia falta da capital. "Todo mês eu estava aqui e resolvi voltar. Brasília tem essa energia mística que faz a gente querer voltar e nunca sair", declara. "Qualidade de vida não é morar na beira da praia. É você sair, ter amigos, ser reconhecido. É você estar numa cidade em que você se locomove facilmente", completa.

"Brasília é muito mais forte em mim que o Rio. Meu ginásio foi todo aqui, minha universidade foi aqui, a academia, o esporte. De 60 até agora, você vê, 56 anos. É um tempão", diz. Hoje, Tabosa mora no Lago Sul, bairro que fica às margens do lago que, para ele, é o melhor lugar de Brasília. "É o pulmão de Brasília. Gosto de acordar e ver o lago, gosto de remar de manhã e sentir a calmaria."

Graduação
Mestre Tabosa, enquanto ensinava capoeira na academia, criou sua própria forma de graduação no esporte. A corda branca com pontas vermelhas amarrada na cintura caracteriza o nível mais alto de formação de um capoeirista que aprendeu com Tabosa. "Cada estado, cada lugar tem um jeito de formar, cores diferentes de graduação", explica.

Brasília tem essa energia mística que faz a gente querer voltar e nunca sair"
Mestre Tabosa

Tabosa criou um jeito próprio de avaliar os capoeiristas brasilienses, baseando as cores da corda nas cores dos sete orixás da umbanda para mostrar cada evolução. Para o mestre, a umbanda sintetiza a fé do negro escravo. "Escolhi a umbanda porque ela é uma religião afrobrasileira, assim como a capoeira. A fé era a única coisa que o negro tinha. Eu resolvi homenagear o negro africano, que veio no navio negreiro, mas que pariu a capoeira em solo verde e amarelo", diz.

As cores da gruação de Tabosa, do nível inicial ao nível mais avançado, são azul, que representa Iemanjá, verde, que representa Oxó, amarelo, que representa Iansã, roxo, que representa Oxum, marrom, que representa Xangô, vermelho, que representa Ogum, e branco, que representa Oxalá. "As três primeiras cores formam a bandeira do Brasil."

Na umbanda, Oxalá simboliza o mais elevado estágio vibratório. Representa a paz, o amor, o abrigo, a resignação, a dignidade e o exemplo maior de evolução espiritual. "A corda branca com pontas vermelhas também homenageiam Ogum, divindade guerreira".

Mestre Tabosa  (Foto: Bárbara Nascimento/G1)Mestre Tabosa (Foto: Bárbara Nascimento/G1)

Reconhecimento
Em 2010, Mestre Tabosa recebeu o título de cidadão honorário de Brasília, na Câmara Legislativa do Distrito Federal, por ser pioneiro da capoeira na cidade e pela divulgação do esporte. "A gente pensa que não tem ninguém vendo o que a gente está fazendo. Às vezes você dá o seu melhor e parece que ninguém está prestando atenção, mas sempre tem alguém vendo. Fiquei extremamente feliz de receber esse título."

Além do título, Tabosa publicou um livro com o apoio do Fundo de Apoio à Cultura. O livro, "O filho de Xangô", foi distribuído em todas as bibliotecas públicas do DF e conta a história de Tabosa e da capoeira em Brasília. Xangô, nas religiões africanas, é o orixá da justiça, do trovão e do fogo. "Um amigo meu me deu a ideia de contar a minha história, que é muito próxima da história de Brasília. Se eu não contasse, ela poderia se perder."

(Bárbara Nascimento, do G1 DF)

http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2016/04/pioneiro-da-capoeira-em-brasilia-fala-do-amor-cidade-e-ao-esporte.htm
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