quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

GRÃO-MESTRE - “SER OU NÃO SER”


GRÃO-MESTRE - “SER OU NÃO SER”

Camisa Roxa, segundo me falaram, ao ser indagado num evento realizado em Siribinha - BA sobre o título de Grão-Mestre que recebera havia pouco tempo, respondeu: “existem tantos mestres de capoeira hoje em dia, que parece com a areia de um oceano! Eu sou apenas um grão desta areia”.

Muito interessante e sábia a resposta!

Conhecendo mestre Camisa Roxa, como o conheci, pois na década de 70 tive o prazer do primeiro contato com ele, quando precisou da ajuda para montar um show do seu grupo folclórico “Olodumaré”, aqui em Brasília, show do qual também participei e que depois fomos nos apresentar em Belo Horizonte. Entretanto, quando o grupo foi para o exterior, apesar do convite do Camisa, eu amarelei, fiquei no Brasil.

Interessante registrar um episódio que aconteceu, no momento em que fui recebê-lo na antiga rodoviária de Brasília, junto com mestre Adilson, quando numa daquelas coincidências ímpares, vem na nossa direção caminhando, o grande mestre Bimba, que também tive a oportunidade de ser apresentando pelo próprio Camisa, que em tempo, de maneira nervosa me disse: “não diga ao mestre qual o motivo da minha vinda aqui em Brasília”.

Naquele momento eu ainda não sabia das intenções do Camisa, uma vez que tinha acabado de conhecê-lo!

A preocupação do Camisa Roxa era a de que o mestre Bimba soubesse que ele estava montando um espetáculo de capoeira, perto do show que ele iria dar! Diga-se de passagem, que esse “perto” correspondia a 200 km de distância, que é a distância de Brasília à Goiânia, onde seria o seu show!

O que eu pude observar desse comportamento do Camisa Roxa, claro, foi o grande respeito e consideração que tinha para com o mestre Bimba!

Tenho certeza que se pudéssemos criar uma atmosfera desse encontro que já se passou o que hoje é impossível, uma vez que os dois estão no andar de cima, com toda certeza mestre Camisa Roxa, teria me pedido: “não fale nada ao mestre Bimba do título de Grão-Mestre que recebi”, pois como poderia ele explicar que seu título era superior ao do Mestre Bimba!

Por esta razão, achei interessante a resposta do mestre Camisa Roxa a respeito do grão de areia, que na verdade é um daqueles “bom rolê” do capoeira, visto que, no universo da capoeira, esse título ainda nem existe.  Portanto, a resposta em forma de brincadeira, faz sentido, tem sabedoria!

O fato de existirem muitos mestres de capoeira hoje em dia, não acho que deva ser um motivo de incomodo, como alguns mestres assim enxergam. Isso porque, assim como existem “artistas” e artistas, “médicos” e médicos, “mestres” e mestres, assim como também existem “cachorros vira-lata” e cachorros vira-lata, quero dizer que em todos esses exemplos, sempre se sobressaem os que são “especiais”!

Mestre é um título de ofício, de trabalho, de um pescador que se destaca dentre todos na sua comunidade e é consagrado por todos! E assim acontece com todos: pintor, músico, capoeira, etc. É preciso que haja uma força maior a fim de que defina quem deva ter essa consagração dentro da comunidade que atua!

Grão-Mestre, para mim, é um título místico, dado principalmente pela maçonaria, entidade que existe há muito na nossa sociedade e que de forma secreta e fechada, tem uma normatização própria que confere esse título a alguém dos seus membros.

Recentemente um discípulo meu, que também é mestre, mestre Skisyto, afirmou que o que está acontecendo na capoeira: é porque ela não tem dono!

Respondi ao “gafanhoto”, que era isso que eu achava interessante na capoeira, ela não precisa de dono, nós que vivenciamos dentro da sua energia, percebemos de maneira empírica, quando ela determina, adequa as normas, mesmo de maneira implícita, mas que sentimos que tem força de fato!

Percebo que não é preciso ser doutor na capoeira para entender isso, a grande maioria sabe diferenciar muito bem, por terem um olhar crítico natural, a capacidade de identificar o que é certo e desconfiar do que é errado!

Trago essa discussão à tona antes que algum aventureiro embarque neste navio, quando ainda há tempo de não cair nesta cilada.

Também chamo a atenção essa inversão de valores que está começando a aparecer no nosso meio! Quem está graduando o Grão-Mestre, são os próprios alunos daquele mestre e isso é no mínimo estranho, pois nesse momento, essa consagração é reconhecida somente por aqueles que estão envolvidos diretamente com o seu mestre, o universo da capoeira, não participa deste evento!

Vamos esperar meus camaradas, que como um capoeira de coração e atitude, sejamos algum “Capoeira Especial”!

Brasília, DF, 1 de janeiro de 2014

HÉLIO TABOSA DE MORAES - Mestre Tabosa


21 comentários:

  1. O filho de Xangô
    Recentemente estava relendo a obra do Mestre Tabosa, “O filho de Xangô”, e não pude deixar de pensar que com esse nome não existe demanda que não possa ser vencida, o livro tende ao sucesso e logicamente o seu autor.
    Sou admirador das obras do escritor Jorge Amado, militante e intelectual, então na ânsia de conhecer mais o universo desse escritor, li em sequência Capitães da Areia, Tenda dos Milagres, O compadre de Ogun, ABC de Castro Alves, Cavaleiro da esperança e Jubiabá, todos representando a miscigenação do Brasil e as vozes dos oprimidos. Então quando eu trabalhava na coordenadoria regional do Guará, e tive o privilégio de participar dos encontros de educadores populares, foram feitas quatro edições e em uma delas o Mestre Tabosa ministrou uma palestra sobre capoeira e também comentou sobre o livro o “Filho de Xangô” para alunos do Guará, da Estrutural e capoeiristas presentes, não pude deixar de relacionar as obras dos dois autores. Ali vislumbrei a importância de obras como a do camarada Jorge Amado e a do Mestre Tabosa na construção da valorização da cultura brasileira, demonstrando os seus fundamentos e princípios. Também acredito que ambos os autores tem como semelhança a simplicidade e a proximidade com o povo, sendo fonte de inspiração para mim.
    Hoje sou capoeirista com a graça divina, estudioso do tema e sei que a capoeira não se extinguiu, primeiramente, pelo fato da resistência negra. O negro suportou açoites, a violência, mas não perdeu sua convicção e a capoeira mesmo contra a lei resistiu. Permita-me expressar que a capoeira se manteve forte contra as forças opressoras pela convicção do seu povo, como ocorreu também com o candomblé. Nas obras de Jorge Amado, pode-se vislumbrar isso, e também percebo tal temática na obra do Mestre Tabosa. Além de atentar que na obra do camarada Tabosa observa-se um importante registro da capoeira do DF com reconhecidos mestres do universo da capoeiragem.
    Deixo aqui manifestada a minha admiração pelo Mestre tabosa e ainda me lembro do seu jogo de capoeira com os errantes capoeiristas do Centro especial de Taguatinga, alunos do professor Fábio, no encontro de educadores populares. Quem sabe não marcamos outras rodas e novos encontros?
    Axé, Álisson Lopes

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    1. Grande Alisson, tenho acompanhado seus brilhantes textos, com conteúdo inestimável em todos os setores que você tem abordado, onde a lucidez e a inteligência estão interligados numa sabedoria só!

      Fico, portanto muito lisonjeado com sua crítica relativa ao meu livro "O filho de Xangô”, mas, que fica muito aquém de ser assemelhado aos escritores que você menciona.


      De toda forma, muito obrigado e estou a sua disposição.


      Abraços,

      Tabosa

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  2. From: ebersondf@hotmail.com
    To:
    Subject: Mestre Tabosa
    Date: Wed, 8 Jan 2014 18:41:01 +0300
    Bom dia Mestre Tabosa,

    Sou Mestrando Eberson, da Associação Brasileira de Apoio e Desenvolvimento da Arte - Capoeira (ABADÁ). Mestrando é um título dado na nossa escola, a quem tem um compromisso maior com a Capoeira trabalhando com alunos, graduados e instrutores; Coordenando cidades, estados ou países e principalmente com uma média em seu nível técnico. É mais um estágio, uma preparação para Mestre o que não só isso, vejo que ele tem que ser conhecido e reconhecido no mundo capoeiristico ,fundamentado em vários aspectos

    Como o senhor sabe fui formado em Brasília aos 20 anos de idade, quando ter vigor físico e ser agressivo era mérito para tal . Abdiquei desse título dois anos depois, percebendo minha imaturidade em vários aspectos "capoeiros". Com 24 anos entrei na ABADÁ e depois de 14 anos, mais maduro e fundamentado, me tornei corda vermelha e continuarei na minha peleja para ser um vermelha e branco (Mestre) na nossa escola. Outro exemplo é a Mestra Edina Lima que fez o mesmo, após se formar em Brasília a Mestra com o senhor aos 16 anos ,se não me engano, na ABADÁ o título de Mestra só foi concedido depois dos 50 anos para ela.
    O título de Grão Mestre foi criado na nossa escola ABADÁ pelo Mestre Camisa para valorizar em vida seu irmão mais velho Camisa Roxa com quem aprendeu seus primeiros passos de capoeira. Entendo e respeito sua opinião sobre o tal título (na sua escola e no seu trabalho) porém o Senhor tem que falar ou criticar do que sabe, e não das outras escolas seus critérios, seus objetivos e respeitar quem já não está entre nós, respeitar a memória de uma pessoa ímpar como foi ele e respeitar toda família ABABÁ .Dia 07 de janeiro nosso saudoso Grão Mestre (Camisa Roxa) fez 70 anos, fizemos uma roda em sua homenagem em todos países, estados e cidade onde tem núcleos da nosso escola ABADÁ e simpatizantes foram milhares de rodas é o que podemos fazer pós morte, pois em vida seu irmão Mestre Camisa já tinha feito na nossa (escola). Vamos pedir que Deus o guarde em um bom lugar, e que as pessoas aqui na Terra deixe-o descansar em paz.

    Eu entendo sua preocupação sobre esses que dizem não se identificar ou não gostar da nossa escola ABADÁ, mas se identificam ou gostam e se preocupam com tudo que ela faz. Imitam graduação sem nem um fundamento,o nome Mestrando, agora todos querem usar a vermelha e branco,e se não bastasse o título (Grão Mestre).
    Isso já não me incomoda mas saio com um bom "rolê"como aprendi nessas situações.

    Obrigado.

    Mestrando Eberson

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    1. De: Mestre Tabosa (mestretabosa@gmail.com)

      Enviada: quarta-feira, 8 de janeiro de 2014 18:34:08
      Para:
      Grande Eberson, muito obrigado pelo seu retorno as minhas considerações sobre o título do "Grão-Mestre - Ser ou não Ser".

      Gostaria que soubesse que conheço o grupo Senzala, na década de 1960, onde tive também a oportunidade de conhecer seu mestre Camisa, que depois criou o grupo ABADÁ.
      Meu contato com a Senzala vem desde 1966, bem antes de você ter nascido, quando nesta década participei dos três "Berimbaus de Ouro", competição realizada no Rio de Janeiro, onde Claudio Danadinho e eu integramos no grupo para essa competição!

      Devo dizer que desde essa época, no último ano desta competição, Claudio sugeriu ao Rafael, líder do grupo e seu criador, que nós representássemos a Senzala aqui em Brasília e ele na época hesitou na resposta, o que foi o bastante para mim não aceitar ser membro do grupo Senzala, fazendo minha trajetória sozinho ! Mas, a amizade, a integração, a troca de experiência, sempre me fizeram ter essa aproximação, principalmente com a amizade particular com o saudoso Peixinho!

      Conheci quando da sua entrada no grupo Senzala, bem no seu início, o seu mestre Camisa, a quem também tenho muita consideração. Tanto é que, eu proporcionei ao Peixinho, que ele desse seu primeiro "curso" de capoeira fora do Rio, ou seja na minha academia em Brasília, assim como também fiz com o Camisa, que também desse seu primeiro "curso", fora do Rio, também na minha academia-DF.

      Pra mim, era uma visão que eu tinha de somarmos experiência, técnica e estreitar a distância Rio-Brasilia.

      Como vê, parece que conheço um pouco do assunto que estamos tratando!
      Por outro lado, não fiz nenhuma crítica a nenhum grupo em especial e sim, fiz um texto, abordando um título novo na capoeira e fiz procurando ter o devido respeito, principalmente ao meu camarada Camisa Roxa que também o conheci, antes de você ter nascido!

      Minha preocupação no que tange a capoeira, numa coisa você tem razão! Muitos copiam o grupo ABADÁ, fazendo com o que foi criado, perca um pouco da mística da iniciativa da criação!

      Senão vejamos: reclamam que existem muitos Mestres na capoeira e que não podemos fazer nada contra! Mas acredito que a própria força da capoeira, regule isto, adequando quem é quem! Muitos estão usando o título de Mestrando, o que achei uma criação muito inteligente do seu mestre, pelas razões que ele achou necessário. Mas com tantas cópias, usada por aqueles que não merecem e nem tiveram os mesmos critérios que vocês foram submetidos, tira a força da criação!

      O título de "Grão-Mestre", como já disse, para mim é um título inerente a Maçonaria e a minha preocupação é que já, já, muitos estarão usando, tirando o brilho da homenagem ao Camisa Roxa, que merece mais do que ninguém no universo da capoeira, todo tipo de homenagem!

      Por outro lado grande Eberson, a Edna quando recebeu a corda Vermelha de Mestre, não tinha 16 anos e sim estava se formando em Ed. Física e para quem era uma atleta na capoeira naquele momento, como ela era, receber uma graduação de Mestre e sendo a primeira no País, seria motivo de júbilo. Qualidades e conhecimento ela tinha!

      Mas como tudo muda num piscar de olhos, não se preocupe que Deus não pisca!

      Estou lhe respondendo Eberson, por ter muita admiração por você, e seu desenvolvimento na capoeira! Não sei das razões da sua saída do Kall, para o ABADA, mas lembro uma vez que fui numa mesa de um evento do Kall em que você me fez uma pergunta significativa: "o que eu achava da saída do Ralil e da Edna do meu grupo" . Que eu me lembre, eu lhe disse: que eu nunca tive nessa mudança como um rompimento, pois cada um procura seu voo!!!

      Abraços, meu camarada, Tabosa

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    2. De: "eberson pereira"
      Enviado: 10 de janeiro de 2014 13:12
      Para: mestretabosa@gmail.com
      Assunto: RE: RETORNO DO SEU EMAIL REFERENTE "GRÃO-MESTRE"
      Mestre Tabosa, fiquei muito honrado da sua atenção.Eu nasci ouvindo falar no seu nome em Brasília . Tive a oportunidade e o prazer de conhecer sua famosa academia Tabosa e seu trabalho na década de 80 . Tenho muito apreço e respeito por vossa pessoa.Sobre o fato da mesa redonda o Sr está redondamente enganado, eu comentei com o Sr que achei desnecessário e não gostei do comentário que o (Mestre Kall) fez, que foi exatamente esse referido. Quero que entenda que não falei da vossa trajetória nem das suas conquistas .
      Mas falei do desrespeito a memória do nosso (Grão Mestre ) .
      Brasília já tem o Grão Mestre Barto (vivo) que o respeito e tem uma trajetória muito bonita até onde sei,o que eu não sei foi como virou Grão Mestre e nem me interessa, e outros aqui em Brasília e no Brasil que nem vale comentar.
      Sobre o nosso eu sei,como já disse,mas posso detalhar: Mestre Camisa cria ABADÁ em 1988,cria com ela suas graduações baseado no VEGETAL, ANIMAL e MINERAL no seu topo vem o minério mais raro DIAMANTE (Grão Mestre) é o que reflete em todas as outras cores. A INSTITUIÇÃO ABADÁ - CAPOEIRA da o título maior dela a Mestre Camisa Roxa foi o único na ABADÁ a ter esse título e será o ultimo, agora não existirá mais na nossa escola ele foi IMORTALIZADO com M. Camisa Roxa.
      Como vê saudoso Mestre Tabosa ,eu conheço da minha escola.
      Sobre a formatura a da Mestre Edna que o Sr. Fez eu não afirmei, mas me lembrei do Japonês que foi junto com Edna, ambos tinham menos de 20 anos, bom me desculpe a franqueza !
      Mas será que Mestre Bimba não acharia no mínimo estranho alguém tão jovem com mesmo título que ele? É ,Brasília basta ser atleta como o senhor mesmo disse ou ter vigor físico,ser agressivo como eu mesmo falei para ser Mestre. Hoje é muito pior,tem Mestre renomado ou com um certo conceito distribuindo título de Mestre até em super mercado. Sem generalizar ! Poderíamos dar uma mãozinha não tendo isso como critério.
      Depois que eu nasci vi essas coisas por aqui .
      Tenho pouco tempo de capoeira,31anos sei que é pouco perto do senhor.
      Mas fiz algumas em Brasília, no Brasil e em 32 países,mas não pega bem falar de si próprio, é só pesquisar .
      Mestre Camisa criou um provérbio muito interessante que ele diz: "mais importante do que o tempo que você tem na capoeira é o que você fez( NA )capoeira durante esse tempo "

      Um grande abraço e muita saúde !

      Mestrando Eberson

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    3. ---------- Mensagem encaminhada ----------
      De: Mestre Tabosa
      Data: 10 de janeiro de 2014 18:04
      Assunto: Reparando nosso desentendimento !
      Para: ebersondf@hotmail.com

      Grande Eberson, deve ter havido algum erro de comunicação, pois inicialmente respondi o seu email, tão somente para você, pois iria manter nossa conversa de forma particular. Foi quando em seguido ter-lhe respondido, recebi o seu email em forma de rapasse.

      Eberson, mestre Bimba não formou ninguém como mestre! Em quase seis meses de treino, ele "formava" naquele sistema dele, com curso de emboscada, sequencia do mestre, e numa festa com um jogo do "tira medalha", que era um jogo com um padrinho, que procurava no jogo tirar a medalha do peito do seu afilhado! Mas esse era o Mestre Bimba!

      Formou senão me engano 4, com o lenço Branco, uns dizem 5, por causa do mestre Oswaldo, de Goiânia, mas que alguns alunos do mestre Bimba não aceitam!

      O lenço Branco estava dentro de um sistema de graduação, ou seja, de uma hierarquia, mas não designava, como Mestre, aquele que o recebia! Outros tempos!!!

      Na capoeira Angola, nem sistema de graduação existia! Os que eram chamados de mestre, era exatamente na mesma condição que outros eram chamados de mestre através do "ofício” e do reconhecimento dos demais!!!

      Portanto, Eberson, esse negócio de graduação e título de "Mestre" vem depois da morte de mestre Bimba, onde a comparação que você fez, não tem sentido! Todos os mestres, como o seu, da Senzala, daqui, só poderia, portanto acontecer, e aconteceu, depois da morte do Mestre, quando também a capoeira tomou uma proporção enorme em nível nacional!

      No entanto, quando faço alusão do mestre Camisa Roxa, ao mestre Bimba que relatei, é porque existiu, e pude perceber o quanto vivo, mestre Bimba era de uma personalidade muito forte, que não cabia espaço a existência de um outro mestre, principalmente aluno direto a ele!

      Não só o vigor físico da idade da Edna, como também o conhecimento que ela adquiriu no caso, na minha academia, deram para ela, a condição sine qua non, para ser aceita com o título de Mestre, pois foi com esse conhecimento que havia adquirido e esse título, que fez com que ele chegasse nos EEUU, e se estabelecesse por lá! Só depois, ela entra para o grupo ABADÁ.

      Na minha graduação, a corda vermelha é de "Mestre", mas a conotação é bem diferente de ser comparada a um mestre Bimba, mesmo porque como já explanei, já estávamos em "outro tempo”! E todos os que hoje têm esse título, nunca poderá ser comparado ao mesmo título, do Mestre Bimba!

      Mas corda vermelha é só um primeiro grau superior no nosso sistema de graduação!

      Depois da Vermelha, temos ainda mais 6 (seis) graus, ditos superiores, ou seja, entra a corda Branca com as pontas em 20 cm, nas cores de toda a sequência das cores da graduação, vejamos: Branca-pontas Verdes, depois, outro estágio: Branca-pontas Amarela, Branca-pontas Azuis, Branca-pontas Roxas, Branca-pontas Marrons, Branca-pontas Vermelha, a que eu me acho e por fim a corda toda Branca, todas elas com o mesmo título, de "Mestre!”. Sei que você não precisa saber da minha graduação!!!

      Você ao citar os diversos exemplos de Grão-Mestre, na capoeira, tanto aqui em Brasilia, como fora da nossa cidade, me deixa mais a vontade de dizer, o quanto o meu texto não era nenhuma crítica particular ao meu camarada Camisa Roxa e sim a todos esses que já estão se arvorando, como você também diz, sem sabermos qual critério que foi usado, a terem tal título.

      Eberson acho que foi interessante termos essa troca de ideias e informações, pois sempre vem acrescentar conhecimentos para ambas as partes!

      Espero que tenhamos discernido nossas dúvidas. Um abraço, Tabosa

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  3. ---------- Mensagem encaminhada ----------
    De: Antônio Carlos Martins
    Data: 9 de janeiro de 2014 21:06
    Assunto: grão mestre- ser ou não ser
    Para: Mestre Tabosa

    Manifesto-me hoje sobre o post do Mestre Tabosa em seu blog, intitulado “Grão-Mestre: Ser ou não ser”. Apesar de não querer alimentar polêmica, acredito que todos têm o direito de expressar os seus pensamentos ou juízos de valor sobre o que quer que seja, sobretudo quando bem fundamentado e de maneira tão cortês como fez o Mestre. Apesar de se referir a um episódio específico por ele vivenciado, até como reforço da tese que veio a defender, Mestre Tabosa tratou o tema de modo genérico, mesmo porque são vários a adotar esse título de grão-mestre, como a quererem se distinguir da grande massa de mestres hoje existente. Achei muito pertinente o detalhe realçado por Mestre Tabosa de que são os próprios pupilos dos ditos grão-mestres quem lhes confere a honraria (se não fossem eles, quem seria?), o que por si só já a torna meio estranha, sendo mais próprio considerá-la uma homenagem e nunca um título ou uma graduação. Mas, independente de o capoeira ter a denominação de contramestre ou de mestrando, de mestre ou de grão-mestre, o importante é que a capoeira seja jogada e divulgada por todos de modo o mais livre e abrangente possível, de preferência, com integração e interação entre todos os praticantes, mesmo porque não é sábia nem razoável a comparação entre escolas de capoeira; pode-se, quando muito, comparar os atletas que a praticam.

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  4. De: Paulao Ceara [mailto:mpaulaoceara@hotmail.com]
    Enviada em: domingo, 12 de janeiro de 2014 05:53
    Assunto: PAULAO CEARA

    Mestre Tabosa,


    Bom dia! e tambem meu Bom dia a todos aqui que estao neste debate que O Mestre Iniciou.

    Mestre Tabosa, primeira gostaira de expressar minha Profunda Adimiracao por Voce, Meu Mestre, que foi na minha adolecencia entrando para adulto uma das minhas fontes de Inspiracao, aprendi realmente muito com Voce e ate Hoje lhe adimiro. Que Saudades!

    GRAO MESTRE, em minha humilde opiniao acho que ou tenho certeza que a Nossa CAPOEIRA, nao precisa mais de invencoes, e sim Uniao, Amizade, Integracao, Amor, e entendimento entre seus Adeptos em Geral, como O MESTRE, mesmo escreveu, e muito bem redigido seu texto por sinal, a propria SOCIEDADE CAPOEIRISTICA, indentificara os Contribuidores para seu crescimento, QUEM realmente deu o SANGUE por ela, QUEM realmente foi Verdadeiro em suas batalhas para integra-la no mundo, tudo isso se tornara HISTORIA Clara, "que borracha nenhuma apagara". Penso que como Seres Humanos temos nossas fraquezas e o EGO, por isso os "Inventores" por uma carencia Afetiva, ou um proprio Isolamento dentro do mundo da Capoeira queira Chamar a Atencao de Alguma Forma.
    Estou aqui dando minha Opiniao, mas tambem nao quero inventar nada, e dizer o que e o CERTO, ou ERRADO, pra ninguem, mas nao acho necessario esse titulo dentro da nossa AMADA CAPOEIRA, e vejo como uma Necessidade chamar atencao e se sentir acima de muitos relevantes ICONES, da CAPOEIRA.

    minhas consideracoes a todos, e MESTRE Tabosa, gostaria de sua presenca ainda em um evento nosso.

    abracos a todos!!!!

    Mestre Paulao Ceara
    FUNDADOR GCB FORTALEZA

    www.capoeirabrasil.nl
    www.mestrepaulaoceara.com

    Tel. 00 31 616313907 Holanda
    00 36 30 687 8669 Hungria
    00 55 85 96881651 Brasil

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  5. Grande mestre Tabosa. Também sou um "filho" da boa capoeiragem de Brasilia, tendo iniciado em 1974, em Sobradinho com mestre Cordeiro. Uma coisa que me sempre me marcou, desde a década de 70, foi a de ouvir sempre o nome do senhor como referência da antiguidade da capoeira de Brasília. Para mim, mestre, é uma honra muito grande ser de Brasília e ter na pessoa do senhor, uma das minhas referências de base.
    Obrigado por continuar sendo um dos ícones da capoeiragem de Brasília, ensinando pelo exemplo, comportamento e pela forma elegante em se comunicar.
    Grande abraço e meu, sempre, respeito,
    Umoi - Dusseldorf, Alemanha.

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    1. Grande Umoi, sei que você é um representante de Brasília, agora pelo mundo! Por pouco, teríamos um contato quando estava em Portugal! Mas o destina tem suas forças e deve ter reservado um outro momento! Muito obrigado pelas palavras elegantes a meu respeito, assim como também tenho boas de você, pois nós da capoeira e do Brasil, acompanhamos aqueles que levam nossa arte para o exterior! Valeu meu irmão, abraços. Tabosa

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  6. Corrigindo: Leia-se "que sempre me marcou", no lugar de "que me sempre me marcou..". Erro causado pela pressa em escrever. Abraço, grande mestre.
    Umoi - Dusseldorf, Alemanha.

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  7. Mestre Tabosa, obrigado pelas palavras. Gostaria de aproveitar esse espaço aqui do senhor e tirar algumas dúvidas quanto a tradicionalidade da capoeira brasiliense.
    Deixo aberto também a quem esteja lendo, para, se desejar, participar desse "jogo".
    Como mencionei, eu iniciei na capoeira em 1974, na cidade de Sobradinho, com o mestre Cordeiro. Minhas dúvidas se prendem, principalmente, com a formação da bateria que eu costumava ver na década de 70 e a que se usa, geralmente, hoje em dia. Outra coisa é que em Brasília sempre se jogou durante a execução de uma Ladainha e mesmo durante a louvação. Vi isso por diversas vezes, inclusive ainda hoje noto que em Brasília se joga enquanto alguém canta uma ladainha. Da mesma forma vejo pessoas que começam outra ladainha durante algum jogo.
    Em relação a bateria, seu sempre via bateria com dois berimbaus, três e até mais de três berimbaus e tendo, também, variação quanto à posição do atabaque, que já vi entre berimbaus, do lado esquerdo ou do lado direito dos berimbaus. Sem falar na indumentária que, ao que parece, se constituía, basicamente, de um abadá curto (pescando), listrados, brancos ou de cor e, também, geralmente, sem o uso de camisetas ou, de vez em quando, batas.
    Na metade da década de 80, vimos uma virada radical nos costumes da capoeira do D.F., coincidentemente depois do I Festival Praia Verde de Capoeira, promovido pelo (não capoeirista) sr. Chico Piauí. Se não estou errado, esse festival deu uma virada de página no historial da capoeira de Brasília.
    Então, mestre Tabosa (e quem mais queira falar sobre o exposto), gostaria de perguntar ao senhor qual é, efetivamente, a tradição da bateria da capoeira de Brasília e de onde é nossa maior influência: da Bahia ou do Rio de Janeiro?
    E quem foram, em Brasília, nossos precursores e de onde vieram?
    Felicidade, paz e harmonia para o senhor, obrigado.
    Umoi.

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    1. Parte 1

      Grande Umoi, vamos recordar o passado, então!

      É necessário dizer que nesta década que você se refere, tanto em Brasília, quanto em todos os outros Estados, estávamos através das dificuldades e por falta de referência, fazendo vários tipos de experiência de forma empírica!

      Também temos que nos transportar para esta época em questão, que mesmo em Salvador, tendo ainda viva a pessoa de mestre Bimba e mestre Pastinha, cada um representando os dois segmentos da nossa capoeira, e que não tínhamos, internet, celular, viajar de avião era quase que impossível, devido ao valor da época, ou seja, não tínhamos conhecimento de como se procediam lá, na terra da capoeira.

      Um outro detalhe que sempre falo, quando vivo mestre Bimba, ninguém poderia ter a coragem de abrir uma academia! Conta mestre Tarzan, que você deve ter conhecido aqui em Brasília, que chegou junto com mestre Pombo de Ouro, que quando resolveu, no quintal da sua casa, ensinar capoeira e a sequência do Mestre, para dois amigos que eram Ang oleiros, mestre Bimba, não deixou mais, ele treinar na sua Academia.

      Nós que morávamos longe e não sofríamos desta pressão moral que mestre Bimba exercia, começamos a criar as primeiras academias de capoeira.

      Em todos os Estados começaram a pipocar as academias, como a Senzala, a minha em Brasília, que foi a primeira a ter essa característica de academia, formalizada! São Paulo, Belo Horizonte, etc...

      Quando participei junto com a Senzala, do Berimbau de Ouro, no Rio de Janeiro em 1966-67-68, não tínhamos uniforme de capoeira! Criamos uma calça (pescando) como você mesmo diz, listrada, mas com o intuito de fazer vista, na apresentação do grupo e todos nós usamos a corda Vermelha, que depois veio a ser um símbolo de graduação de Mestre, na capoeira atual!!!

      Então você percebe que tivemos que abrir o clarão da mata, ou seja, tentando, experimentando, de acordo com que a necessidade pedia!

      Foi então que em 1974, quando eu abri a minha academia de capoeira, pelo fato dos alunos cobrarem um sistema de graduação, é que fiz a minha, uma vez que a da Senzala, quando procurei fazer igual, vi que não tinha muito embasamento das suas cores, o porquê!!!

      Fiz a minha graduação baseada nas cores dos Orixás da Umbanda, que sintetiza a religião africana no Brasil, nas cores e sequência, de uma guia que tinha comprado no Rio.

      Veja, que no sistema de graduação do mestre Bimba, que era baseado em lenços, onde o mais alto era o lenço branco, não significava, que a pessoa que o recebesse, recebia o título de "Mestre"! Os títulos de "mestres" aparecem depois de sua morte!!!

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    2. Parte 2

      Quanto ao uniforme, também foi outra tentativa de procurar algo pra capoeira, que estivesse compatível, mais uma das experiências, que tínhamos que fazer! Foi quando fiz a "Bata", que é uma característica de roupa africana! Mas o "tempo" é que iria determinar o que poderia ficar!!!

      Optamos mais tarde por deixar o tronco sem roupa, ou seja, sem camisa!!! País tropical! Também foi por um período!

      Acho que por uma necessidade econômica, tivemos na camiseta, uma boa saída, por enquanto!

      Todo evento agora, tem sua camiseta, cobra-se por ela e obriga-se a usá-la! Veja como são situações que vamos fazendo nossas experiências, os outros copiam, e vai dando certo!

      Capoeira não tem dono, e eu acho isso maravilhoso, pois a força implícita que ela própria tem, somada a força de uma democracia, onde todos estão sintonizados num mesmo propósito, é que faz ser respeitada!!!

      Quanto à orquestra na capoeira!

      Veja, na capoeira Regional, mestre Bimba, sendo o criador da Regional e ele que tinha essa personalidade, das coisas girarem em torno dele, só existe um Berimbau, que seria "Ele", tocando! E assim foi copiado, ficando então como uma tradição da Regional.

      Como mestre Bimba era envolvido no Candomblé, ele não deixava na capoeira, ter atabaque, que era instrumento característico do Candomblé!

      Mas, a capoeira Angola, sempre teve uma orquestra mais completa, com os três berimbaus, pandeiro, às vezes dois, reco-reco e palmas. O pandeiro da Regional, pra você vê, não tinha nem, "platibandas", ou seja, aquelas rodinhas em metal, que ficam presas no pandeiro!

      Perceba então que lá atrás, sem as devidas referências, ter na roda, quando não tinha necessidade de um "porquê”, e quando vemos nas fotos, hoje, que usávamos, um, dois as vezes quatro berimbaus, na verdade era, que queríamos que o berimbau fosse escutado e o ritmo seguido!

      Com a morte desses dois ícones da nossa Capoeira, as coisas nos dias de hoje, ficaram mais livres e sofrem algumas adequações ou mutações, que a partir de agora, é você que vai contar, daqui algumas décadas, pra alguém que como você, procura a essência da nossa arte, para mantê-la viva e forte!

      Grande Umoi, foi um prazer compartilhar esse passado com você, pois recordar é viver, axé, meu irmão e estou a sua disposição.

      Abraços, Tabosa

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    3. Parte 3

      Grande Umoi, desculpe-me não ter respondido todas as perguntas, foi descuido, que só agora percebi!

      Continuando, então: Quanto ao Praia Verde amigo, não compactuo com essa ideia de que foi um marco na capoeira de Brasilia na década de 80!

      Eu mesmo, nunca tive contato com esse movimento e em nada, portanto, influenciou no que já fazíamos! Também, nunca mais ouvi falar deles!

      Quanto ao jogo feito durante o canto da ladainha, me causa bastante estranheza esse fato, pois sempre esperamos o “é hora, é hora, camará”, para então iniciar o jogo!!!

      Isso naquela época, pois logo depois, eu só dava aula da Capoeira Regional e não tem ladainha!

      Quanto à influência que tivemos, acredito muito na troca de experiência que tivemos com o Rio de Janeiro, uma vez que todas as minhas férias eu passava um mês, não fazendo aula, mas jogando, nas rodas das aulas, fora as exibições que participava junto com a Senzala, a convite deles! E nossa participação do Berimbau de Ouro, onde Claudio, Adilson, Fritz e eu, tivemos!

      Precursores: Quem iniciou de forma oficial, com frequência regular, dando aula de capoeira aqui em Brasília, foi meu mestre "Arraia", Aldenor Benjamin, em 1964 no colégio Elefante Branco.

      Posteriormente, com a ida do Aldenor pra Salvador, de volta para morar, em 1968, comecei a dar aula na UNB-FAUNB, Universidade de Brasília. Também em 1968, mestre Adilson, dá aula no Elefante Branco, permanecendo lá muito tempo! Mestre Claudio Danadinho, dá aula no CIEM e mestre Fritz num clube.

      O Cláudio, logo depois vai para o Rio e faz parte efetiva da Senzala e depois pra Argélia, representar Oscar Niemeyer, em arquitetura. O Fritz parou de dar aula.

      Quem continuou desta época a ministrar capoeira aqui em Brasília, foi mestre Adilson e eu.

      Quando mais tarde, mestre Arraia, volta à Brasília, ele volta com uma característica de capoeira Angola e passa esse conhecimento para o mestre Barto.

      Acho que consegui responder todas as suas perguntas! Estou à disposição, abraços, Tabosa

      Agora eu é que faço uma pergunta: qual era o apelido do seu mestre?

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    4. PARTE 1

      Salve, salve Mestre Umoi
      Se me permite gostaria de dar minha singela contribuição - O quê que eu vi: Um dia desses -primavera de 2014- fui convidado a "dar" uma aula onde eu era -veja só- responsável pelo tema Capoeira Angola, no CIEF, pelo professor Cafú, em um curso da Secretaria de Educação. Mestre Zulú e mestre Paulão, que concordaram (pelo menos em grande parte) com o que eu relembrei: as rodas de capoeira que presenciei nos anos 80 em Planaltina-DF, que é minha cidade, Sobradinho, Plano Piloto, Taguatinga e cidades do entorno, como Formosa e Planaltina de Goiás, que são bem próximas do DF, eram assim: embaladas pelo São Bento Grande de Angola. Se houvesse 1 berimbau, ou 2, ou 3, ou 4...todos entoavam o referido toque, os pandeiros e atabaque(s) também não obedeciam critérios de quantidade ou posicionamento. Cheguei a ver rodas com dois atabaques, por exemplo (igual a caipiras quando conseguem comprar guarda-chuva e guarda-sol, sai com os dois e se molham). Estes assim como os pandeiros, não apenas marcavam o ritmo ou acompanhavam os berimbaus, mas ficavam livres a toda sorte de repiques e variações que o tocador lhes impusessem. Quanto ao agogô, só vi meu mestre usar, ele gostava, mas nem sempre o tínhamos.
      Disposição dos instrumentos: também não tinha critério, tanto fazia ser o(s) berimbau(s) ficava(m) no meio ou nas laterais, o atabaque também podia ficar no meio, inclusive tenho registros fotográficos.
      O canto: qualquer um cantava, não importando se estava nos instrumento ou não (obs: não se usava o termo "BATERIA", não era conhecido).Era como uma disputa, por vezes um "atropelando" o outro. Normalmente -se tivéssemos essa preocupação- observaríamos que muitas vezes não se "cantava o jogo", era alheio. Aí....lá em certa altura da roda dava-se uma parada e vinha a frase clássica "vamô fazê uma angolinha aí!", então o berimbau, ou 2, 3...tocava beeeeeem devagar: "TI, TI, TOM... ... TIM", todos os berimbaus tocavam o toque de Angola. Vinha a primeira ladainha, na louvação os jogadores começavam, então vinha um "festival de ladainhas", ao invés de corridos acontecia -já referida- disputa: não era raro que quem estava até lá no "fundo da roda" ganhar no grito começando nova ladainha e o jogo rolando. (obs: Mestre Umoi, se os jogadores fossem -tivessem essa clareza- esperar até o fim da ladainha, estariam lá agachados até hoje.)
      Jogo: Comprava-se normalmente, inclusive na "Angola" havia muita compra. Se o jogo era mais rápido -sempre no São Bento Grande de Angola-, se dizia que era Regional, e se fosse bem "de-va-gar" e rasteiro, era Angola. Lembrando que era tudo muito bom, jogávamos com todo esse desprendimento por horas a fio. O que faço aqui é apenas uma análise, lembranças. A ideia é informar. Os mestres passavam o que aprendiam, a informação aqui no centro do país que chegava até eles era pouca, isso se compararmos com os dias atuais.
      Indumentárias: Mestre Umoi deu a descrição perfeita. Meus acréscimos: na segunda metade dos anos 80 meu mestre quis que usássemos camiseta branca, calça preta (abadá de brim) e tênis (bamba cor branca). Apesar das dificuldades financeiras isso durou alguns anos. Até o final da década de 80 o abadá era comum ser de brim ou até algodão de saco de açúcar, feito em casa.

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    5. PARTE 2

      Quanto ao uso ou não da camiseta, no começo dos anos 80, muitas vezes já era mais para mostrar tatuagens, músculos (naturais ou não), e foi/é uma luta, até por questão de higiene, travada desde então.
      Um pouco do que vi, senti em rodas e rodas nas décadas de 80, 90....para muitos o que descrevo aqui isso não é passado..
      Quando veio a década de 90, acredito que com a maior abertura para/do mercado estrangeiro e o gradativo desenvolvimento dos meios de comunicação começamos a ter maior clareza e até desmistificação de coisas relativas à capoeira. Já não estávamos (até os mestres) presos ao "ouvi dizer", ou a única revista repetida que saia anualmente apenas com a capa diferente. Até então o mestre pedia: "manda carta pro Rio e pede livros/LP's", que demoravam mais de meses para chegar.
      Nossa capoeira....éramos como caipiras, talvez ainda, com poucas informações e muita vontade. Iê viva meu mestre!!!.....
      Mestre Umoi, inda tenho aquela prova guardada, lembra-se???
      Quanto ao marco da virada da capoeira no DF, acredito que foi a partir da década de 90 com o desenvolvimento e maior acesso à informações.
      Só nós: você, o meu mestre e eu, por exemplo, que temos um trabalho de fazer aulas diariamente durante décadas e mais do que ver de camarote, sentir o sangue, suor e lágrimas...podemos ter essa percepção.

      Comecei capoeira na primeira metade dos anos 80 e sou discípulo do Mestre Paulo dos Santos.

      Mestre Pau-Pereira.

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  8. Viva, Mestre... obrigadão, mestre.. to adorando esse "jogo", embora eu já tenha percebido porquê as pessoas o chamam de "Mestre",.... não é título para qualquer um..
    Mestre, começando pelo final. A pergunta do senhor: O nome do meu primeiro mestre é Manuel Cordeiro e ele, na capoeira, era conhecido como Cordeiro. Era nosso mestre. Depois que ele parou de dar aulas, passei um tempo treinando no Grupo Kabala, onde várias pessoas desse grupo, já faziam comentários sobre as rodas da UnB e falavam, especialmente no nome do senhor, embora possa parecer, aqui, agora, oportunismo meu falar isso, mas era isso mesmo. Talvez o senhor conheça alguns integrantes desse velho grupo de Sobradinho que, infelizmente, já não existe: Paulão, Louro, Beto Capoeira, Leonã, Mizael, Cristiano, Carlinhos Cabeludo, Haroldo, Carlão, entre outros. Depois, eu fui "adotado" pelo mestre Alcides de Planaltina de Goiás, o qual me entregou as graduações Roxa e Vermelha, no tempo, que ele julgou ser, correto.
    Sobre o Praia Verde, eu, evidentemente não ponho em causa o fato de esse festival ter influenciado em nada o trabalho do senhor que já, muito, estava consolidado e sedimentado em princípios que não se abalariam e nem mudariam por causa do Praia Verde. Aliás, o grande erro do sr. C.P. nesse festival foi ter dito que o senhor aprenderia capoeira lá também. Lembro bem da elegante resposta que o senhor lhe deu no Mané Garrincha, quando ele foi lá pedir apoio para a realização do segundo festival. O senhor, como ja disse antes, elegantemente, deu a ele a resposta sobre o que ele teria dito, sobre o senhor ir aprender capoeira no festival. À parte disso, mestre, eu, efetivamente, notei uma virada de página na capoeira de Brasília na medida em que a Angola que até, então, muita gente de Brasília conhecia, onde me incluo, evidentemente pelas razões óbvias de impossibilidade de viajar e conhecer, era a linda capoeira angola do nosso querido mestre Barto e, no meu caso particular, a capoeira angola ensinada em Sobradinho, pelo Mestre Mão de Ouro, infelizmente já falecido. Então, a mudança que eu senti, não foi, necessariamente, em alguma influência em trabalhos já bem solidificados como do senhor, mestre Adilson, mestre Chibata e outros, mas uma maior procura em se saber mais sobre a linhagem pastininhana de capoeira angola demonstrada pelos mestres que estiveram presente no Praia Verde I.
    Mestre, tenho muito mais a conversar com o senhor e se eu não estou sendo inconveniente, gostaria de aproveitar essa abertura que o senhor está me dando para continuar esse jogo com muito mais perguntas e troca de ideias. Aqui, mestre, entendo bem a máxima que diz que "quem sabe mais, ensina quem sabe menos".
    Obrigado pela atenção. Posso dizer, que desde meus dez anos de idade, esperei muito por esse momento. Só não podia prever que seria, inicialmente, de forma virtual.
    Paz e harmonia para o senhor, mestre... abraço amigo,
    Umoi.

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    1. Grande Umoi obrigado pela consideração, mas acredito que na vida tenhamos que cumprir nossa missão, que às vezes fazemos sem perceber, é só estar na hora certa, no lugar certo, que as coisas acontecem, é o tal do Destino.

      Longe de mim me comparar ao ditado que vou lhe dizer, mas no que diz respeito a nossa troca de experiência, quando temos um jogo de pergunta e resposta, é por que, quem no caso está respondendo é quem tem o conhecimento para aquele momento!

      Li um ditado que diz: "corrija um sábio e o fará mais sábio - corrija um ignorante e o fará teu inimigo", aqui cabe mais a você que tem a sede de procurar mais sabedoria e por ser uma pessoa perspicaz!

      Axé meu irmão! Abraços, Tabosa

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  9. Caro Mestre Tabosa,
    por enquanto eu vou dar uma "volta ao mundo" para retornar a esse jogo com muito mais perguntas sobre a tradicionalidade da capoeira brasiliense, e não só, se o senhor me permitir, é lógico.
    Muito obrigado de coração por todas suas palavras, explicações e filosofia partilhadas comigo. Acredite que aprendi muito com essas mensagens e só tenho que agradecer.
    Fica meu abraço, meu sincero respeito e, agora, redobrada admiração.
    Um abraço sempre amigo e sincero,
    Umoi.

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    1. Valeu meu irmão, na volta que o mundo dá, a gente se encontra! Axé

      Tabosa

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