Estava no Rio de Janeiro uns 4, 5 meses antes do Carnaval. O Mestre Leopoldina da Mangueira me viu jogando lá na Senzala, perguntou quem eu era pro Peixinho, Camisa. Veio e me fez o convite apenas, se eu queria participar do desfile da Mangueira.
Eu mangueirense disse: "Vou, vai ser um prazer Mestre, mas falta muito tempo. Como é que eu faço eu moro em Brasília?!"Ele disse: "Não, não, não se preocupe!". Isso é um papo de 4, 5 meses antes. Nunca mais a gente se falou. Tinha que fazer a fantasia... Ele disse que ia fazer a roupa de acordo com o corpo dele, porque eu era um pouco parecido.Chegou o carnaval. Eu ia pro Rio de Janeiro de qualquer maneira. A Mangueira ia desfilar às 4h da manhã, aí eu pensei, eu estava na rua, fui tocar violão com a Ângela e essas coisas todas.Eu disse: "Ângela eu tenho que 4h da manhã estar na Mangueira onde ia ser a saída. E agora, estou com a maior dúvida aqui, se eu chego lá em cima da hora e tem alguém que ficou no meu lugar com a roupa, tudo bacana para fazer o desfile, o cara está ali já esperando ansioso e eu chego?!"
Uma: o Mestre Leopoldina podia falar pra mim: "Poxa, não tinha certeza se você vinha, infelizmente coloquei outro no seu lugar!"Ou ele diria: "Oh, Tabosa! Fulano, esse é o Mestre que vai ficar no seu lugar, eu já tinha te avisado, então entrega a roupa para ele!"
Eu disse: "Claro pode vir, mas olha, eu dou aula 6h!"Ele veio com quem? Mestre Leopoldina! Ele ficou me olhando atravessado.Eu falei: "Poxa Mestre, aconteceu isso, isso, isso, isso. Poxa, eu fiquei nessa situação assim!"Ele falou: "mas o rapaz estava sabendo, se você chegasse ele tinha que sair!".Eu disse: "Pô, bacana, mas eu estaria tirando o prazer de um cara que já estava totalmente sabendo, né?!"
Mestre Luís Paulo - ES (no berimbau da direita) e
Mestre Tabosa (esquerda da foto) e Mestre Toni Vargas (jogando).
Samba-Enredo 1988 - 100 Anos de Liberdade, Realidade ou Ilusão
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (RJ)
Será que já raiou a liberdade
Ou se foi tudo ilusão
Será, oh, será
Que a Lei Áurea tão sonhada
Há tanto tempo assinada
Não foi o fim da escravidão
Hoje dentro da realidade
Onde está a liberdade
Onde está que ninguém viu
Moço
Não se esqueça que o negro também construiu
As riquezas do nosso Brasil
Pergunte ao Criador
Quem pintou esta aquarela
Livre do açoite da senzala
Preso na miséria da favela
Sonhei
Sonhei que Zumbi dos Palmares voltou
A tristeza do negro acabou
Foi uma nova redenção
Senhor! Ai, Senhor!
Eis a luta do bem contra o mal (contra o mal)
Que tanto sangue derramou
Contra o preconceito racial
O negro samba
O negro joga a capoeira
Ele é o rei na verde e rosa da Mangueira
Composição: Alvinho / Helio Turco / Jurandir.
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