Um pacto de amor
Poderia ser um dia
como qualquer outro, onde a rotina nos impulsiona para começarmos o dia, mas há
meses este momento estava sendo cuidadosamente planejado. Foi idealizado por
uma pessoa ímpar, cheio de virtudes e desejos incomuns. Como diz o ditado: “Quando
o ego é anulado, Deus se manifesta”.
Este discípulo, munido de um coração enorme convocou-nos
para uma missão quase impossível, surpreender seu Mestre para comemorar os seus
50 anos de dedicação à capoeira, pedindo
silêncio desde o mês de Maio
para esta grande homenagem.
Não sei se pelo nome
sugestivo, mas “Palmas” foi a cidade
escolhida para trilhar o caminho de retribuições ao Mestre/Professor. Do outro lado do mar atlântico este
discípulo entrelaçava gestos de pessoas cujo propósito era o sucesso da
empreitada. Silentes e dedicados, os discípulos deste discípulo, enfim
emocionaram o seu Mestre com uma belíssima festa, com direito a placa
comemorativa e mais um de seus belos textos, é claro. Contudo, este era apenas
o “pico da montanha”, cuja base sólida e espessa estava escondida para a hora
certa de ser revelada.
Os dias se passaram
como vento, os preparativos foram dando forma ao evento e grandes Mestres de
uma mesma geração também foram convidados para serem homenageados. Alunos,
amigos e familiares foram avisados e estes repassaram a boa nova, mas o pacto estava formado. Ninguém
interrompeu esta corrente de amor ao Mestre dos Mestres. Foram dias de muita
correria, providências de última hora, acertos e contratempos, mas o dia chegou
e o Mestre foi convocado. Para que não houvesse uma bifurcação no caminho a ser
tomado, sua família também foi envolvida no projeto. A esposa foi incumbida de
trazê-lo ao evento, sua irmã cantora entoaria o “Ponto do Guerreiro Branco” interrompendo a cerimônia e deixando
ecoar sua voz no ambiente. Suas
três outras irmãs, sua filha também de alma e capacidade esportiva e os
cúmplices cunhados entrariam juntos no salão ritmando com palmas. Para que
surpreendêssemos o anfitrião e provocássemos “O Segundo Arrepio” e não
ser esquecido igualmente, previamente programamos a soma de nossas palmas com dois
grandes amigos escolhidos a dedo (Huguinho e Rogélio), com o intuito de que o
local, absolutamente lotado, fosse invadido com a emoção há muito sufocada na
garganta. O calor humano aqueceu o ambiente e nossos olhos se voltaram para o
Mestre tomado por esta energia rara
nos dias de hoje, palavras de
Mestre Monera.
Não sabemos qual foi a
reação de Mestre Tabosa. Ao chegarmos perto do palco só pudemos ver seus olhos
vermelhos e um sorriso quadrado informando que para tudo tem um retorno e que
íamos “pagar” pelo nosso feito.
Com um comando sutil,
o banner foi desenrolado com a imagem
do homenageado. Seu nome refletia o sol, originado do seu primeiro nome
“Hélio”; uma mensagem que traduz tudo “Uma Vida Pela Arte” e seus 50 anos
formados com a cabaça de um berimbau, pintada com sua última tatuagem do
martelo estilizado de Xangô com duas lâminas, feita pelo melhor tatuador de Brasília
e grande amigo, Rogélio; no rodapé, uma marca criada por Jean, discípulo do
Mestre Skisyto, profissional na área, para ser repassada para as camisetas e uma
discreta linha de quem não queria ser destacado, mas que por merecimento de
pura dedicação, não poderia permanecer no anonimato.
Uma tela desceu do
teto e foi projetando imagens de muitas facetas do homenageado, apresentando
seu envolvimento na capoeira, no judô, no caiaque, na música, no teatro e no cinema.
O ambiente estava
decorado com flores amarelas e tudo foi registrado por muitas mãos levantando
celulares, máquinas fotográficas e filmadoras. Ninguém queria perder aquele acontecimento.
Como num passe de mágica,
o Duende uniu arames e moldou o Orixá de seu filho. O troféu personificado em Xangô
foi entregue ao Mestre Tabosa, fazendo com que Mestre Itapoã voltasse no tempo,
lembrando o mesmo gesto, homenageando o mesmo amigo com um trabalho de outro
artesão.
O papel da família
ainda não estava completo, seu discípulo e sobrinho de sangue, na
impossibilidade de estar presente, deu-nos a incumbência de ler seu belíssimo
texto, enfatizando os motivos pelo qual sempre foi seu seguidor, enumerando
adjetivos e contando registros únicos de vivências com seu Mestre e tio. Depois
que os fatos se tornaram lembranças, o troféu de Xangô passou a ser batido com
a lateral do dedo polegar, pelo tio, como se este gesto pudesse disfarçar ou
controlar sua emoção em cada palavra de seu admirador, Herald.
Mais emoções estavam
por vir e o regente e mentor ia desvendando cada uma delas com o passar das
horas. O toque do berimbau feriu o ar e o canto de lamento criado para o Mestre
Tabosa foi compartilhado com todos os presentes. Como se isto não bastasse, no
fundo do auditório foi projetado um vídeo do seu criador, gravado num continente
distante devido a problemas físicos, mas presente em voz, imagem e afeto.
Alguns minutos de silêncio profundo para ouvir a homenagem tocante de mais um
discípulo amado. Mestre Fred Guaraná declara de coração aberto sua paixão pelo
Mestre, “pai” e amigo, demonstrando sua garra de lutar pelo imprevisto representada num troféu, cuja trama prateada retrata o jogo da capoeira, onde seus camaradas e irmãos clamam por liberdade. Que
Deus o traga para perto de todos nós.
Do palco, Mestre
Tabosa abria a boca puxando o ar com toda força de seu peito, mas não parecia
ser o suficiente para preencher o espaço gerado pela emoção. Do lado oposto
estava o Mestre Monera com seus olhos parecendo um farol, brilhando em todas as
direções, para não perder nada. De longe podíamos adivinhar o ritmo de seus
corações.
Mais uma vez o
berimbau foi convocado, mas para não encobrir a voz rouca do Mestre/amigo
devido ao clima seco do ano, o instrumento calou para ouvir a história narrada
em uma ladainha também escrita para o homenageado. Mestre Adilson foi
acompanhado por muitas vozes, cuja letra e melodia já são de conhecimento de
todos, devidamente publicada na rede.
Mestres e contramestres foram, um a um, sendo
chamados ao palco: alunos há muitos anos distantes apareceram: Japão, Piauí
entre tantos outros importantes, assim como muitos amigos, tal qual o eterno
amigo/irmão Robson companheiro desde o princípio desta história e Mestres de muitos
Grupos de Capoeira de Brasília e de outros estados. A festa era de todos e para
todos.
De repente, em meio a
simultâneos cumprimentos, o microfone foi solicitado e Tabosa resolveu
agradecer tantas demonstrações de carinho. O discurso foi de improviso, uma vez
que era o único desavisado do grupo, o pacto
foi mantido até o último instante. Em um dado momento, a voz foi estrangulada
na garganta, o choro tomou conta de seu peito e com a cabeça abaixada, deixou
sua emoção extravasar, coroando o evento com aplausos imediatos de compreensão
e satisfação da plateia presente.
O Mestre das
cerimônias, o senhor do sonho realizado permaneceu de “cócoras” com o seu fiel
chapéu de palha, próximo ao seu Mestre, com os olhos molhados e o coração
repleto de felicidade. Finalmente o dia chegou carregado de um amor
compartilhado. Um dia perfeito para guardar na memória.
No salão ao lado
Mestre Tabosa foi rodeado para iniciar os autógrafos. Uma fila foi formada aos
poucos, enquanto o coquetel era servido. Entre abraços e conversas diversas, o
Grupo Porão completava mais uma de tantas outras iniciativas para arrecadar
fundos, para o seu amado Mestre, ainda na
Europa. Mais Mestres, amigos e conhecidos foram chegando para abrilhantar a
festa. Entre outros, Mestre J. Bamberg e Mestre Edna vieram de longe para este
encontro único.
Nosso muito obrigada!
Maira Taboza e família
Clique na imagem do autógrafo de Mestre Tabosa para ver mais fotos do evento. Fotos da Jornalista Márcia Lameu, da Filha Camila Medeiros e da Bambu (empresa responsável pela divulgação de Mestre Tabosa).
Clique na imagem de texto para ler o texto do Herald
(discípulo e sobrinho de Mestre Tabosa)
(discípulo e sobrinho de Mestre Tabosa)
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Gostaríamos de disponibilizar 2 links que João Couto Teixeira gravou do evento Simpósio/2014 e da comemoração de 50 anos de dedicação à capoeira de Mestre Tabosa.
A gravação contém os discursos dos Mestres que também foram homenageados com o troféu da Terreiro Capoeira e a surpresa de Mestre Tabosa com a homenagem.
Mestre Hélio Tabosa I: 50 Anos de Capoeira. Museu Nacional de Brasília, Distrito Federal
Mestre Hélio Tabosa II: 50 Anos de Capoeira. Museu Nacional de Brasília, Distrito Federal
Clique na imagem abaixo para assistir ao vídeo gravado com a ladainha de
Mestre Fred Guaraná cantada e tocada pelos seus discípulos
Mestre Fred Guaraná cantada e tocada pelos seus discípulos
Clique na imagem para assistir ao vídeo da homenagem de
Mestre Fred Guaraná ao Mestre Tabosa
Mestre Fred Guaraná ao Mestre Tabosa
Clique na imagem para assistir ao vídeo do Mestre Tabosa agradecendo às homenagens
5 dias depois fechando as comemorações dos 50 anos de dedicação à Capoeira,
Mestre Tabosa convida os Mestres que participaram do evento para um papoeira e
inaugurando o Espaço Zumbi, na casa do Mestre Tabosa
Mestre Tabosa convida os Mestres que participaram do evento para um papoeira e
inaugurando o Espaço Zumbi, na casa do Mestre Tabosa